Gato de Botas 2: O Último Pedido

o cinematógrafo
3 min readMar 5, 2023

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Gato de Botas, Perrito e Kitty Pata Mansa | Foto: Universal Pictures/Dream Works Animation

Das sequências de 2022, poucos poderiam imaginar que Gato de Botas 2: O Último Pedido seria uma das melhores continuações e animações do ano. O longa dirigido por Joel Crawford, que antes realizou Os Croods 2 (2020), surpreende pelo retorno do felino espanhol às telas após mais de dez anos desde seu filme solo. Além de uma narrativa cativante e envolvente, existe riqueza visual na animação, indo contra a já batida animação 3D.

Vivendo uma vida desregrada, heroica e perigosa, Gato de Botas (dublado por Antônio Banderas) enfrenta o preço de sua audácia. Ele já gastou oito de suas noves vidas (no hemisfério norte, os gatos “têm” 9 vidas) e a sombra da morte em forma de Lobo (dublado por Wagner Moura) o atormenta. A solução encontrada pelo destemido herói é buscar o Último Desejo e pedir por mais nove vidas.

Logo na introdução, fica clara a irreverência do protagonista. Em um castelo junto de camponeses, a vida é uma festa, com música e danças. O perigo se aproxima quando um gigante é despertado e coloca todos do vilarejo em risco. Crawford, já nos minutos iniciais, demonstra como será a animação, um misto de aventura, ação e comédia. Junto disso, o aspecto visual também é evidenciado no prólogo.

A animação não usa somente o 3D, típico da maioria das animações hollywoodianas. A obra flerta com o 2D, que é bem perceptível no despertar do enorme monstro, mas também possui referências que remetem aos animes, sobretudo nas cenas de ação. A “câmera” capta todos os movimentos nas batalhas sem utilizar muitos “cortes”. Ou seja, os planos são longos e fluidos com uma boa condução da ação. O uso das cores também traz um maior apelo visual para Gato de Botas 2: O Último Pedido. As explosões contrastam a violência com o colorido, dando um aspecto mais infantilizado para esses conflitos.

O enredo traz maturidade para a história, porém sem perder o caráter pueril da animação. O Gato de Botas percebe seu iminente fim e a figura da morte, além de ser sinistra e com um visual caprichado, contribui para essa noção. Ele se esconde, finge ter morrido e, de certa forma, mata a lenda para sobreviver em sua última vida. É neste contexto de fuga de si mesmo que ele encontra Perrito (dublado por Harvey Guillén), um cachorro que se disfarça de gato.

O personagem é uma espécie de alívio cômico, entretanto um bem eficiente. As piadas são engraçadas e, em alguns momentos, até absurdas (os irmãos engraçados e a meia). A personalidade divertida e inocente é um contraponto natural para o Gato de Botas — assim como o Burro era nos filmes da saga de Shrek. O cachorrinho tem um quê de pureza que encanta e diverte crianças e adultos, o momento do Time Amizade comprova.

Contudo, não seria um filme do Gato de Botas sem o fator mais importante que consolidou Shrek: os contos de fadas. Neste longa, a Cachinhos Dourados (dublada por Florence Pugh) procura o Gato, no momento já dado como morto, para roubar o mapa que leva para o Último Pedido. Quem detinha a posse do mapa mágico era Joãozão Trombeta, personagem de uma canção folclórica que é conhecido por comer uma torta sozinho. A índole ambiciosa e mesquinha do personagem é mantida e reforçada pelo seu visual, um corpo gigante com cabeça pequena e feições malvadas.

No roubo, Gato encontra uma velha conhecida, Kitty Pata Mansa (dublada por Salma Hayek) e a partir daí se estabelece a corrida do trio (os dois e Perrito) contra os vilões para conseguir alcançar o desejo mágico.

Gato de Botas 2: O Último Desejo é uma animação divertida que não abre mão do espírito infantil para conseguir agradar todos os públicos. O subtexto da maturidade, do cansaço e da aceitação de que o tempo chegou é, por si só, interessante, uma vez que lida com o amadurecimento do personagem principal que antes era imbuído de prepotência e arrogância. Visualmente, a obra usa de várias referências de animações e, ao mesclar diferentes estilos, rompe com o comum, inova com segurança e, melhor de tudo, com um excelente resultado. Por fim, a história que é bem amarrada e sem “pontas soltas”, deixa o espectador com um “gostinho de quero mais”.

Gato de Botas 2: O Último Desejo foi indicado ao Oscar de Melhor Animação e está disponível nos cinemas.

Confira o trailer:

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